O Brasil e mundo ainda enfrenta o desafio de erradicar o trabalho infantil: atualmente cerca de 138 milhões de crianças trabalham
Por Redação | 12 de junho de 2025
Nesta quarta-feira, 12 de junho, é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil. A data, criada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2002, tem o objetivo de chamar atenção para uma das mais graves violações de direitos da infância. Em 2025, os números ainda revelam um cenário alarmante e reforçam que o desafio de erradicar o trabalho infantil está longe de ser superado — tanto no Brasil quanto no mundo.
Segundo dados divulgados pela OIT e Unicef, cerca de 138 milhões de crianças ainda estão em situação de trabalho infantil no mundo. Desse total, 54 milhões exercem atividades consideradas perigosas, com riscos à saúde, à segurança e ao desenvolvimento físico e mental. A maior parte dessas crianças está no setor agrícola (61%), seguida por serviços (27%) e pela indústria (13%).
A distribuição global também revela profundas desigualdades regionais. Enquanto Ásia e Pacífico apresentaram quedas consideráveis nos últimos anos, a África Subsaariana concentra a maioria dos casos, com aproximadamente 87 milhões de crianças trabalhando. América Latina e Caribe mantiveram estabilidade, com 7 milhões de casos. No entanto, os especialistas alertam: o progresso global precisa ser 11 vezes mais rápido para que o mundo consiga atingir a meta de erradicação total até 2025, conforme estabelecido nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Brasil apresenta queda, mas desigualdades persistem
No Brasil, os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram um avanço significativo: em 2023, o país registrou o menor número de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil desde 2016. Foram contabilizadas 1,607 milhão de pessoas entre 5 e 17 anos, o equivalente a 4,2% da população dessa faixa etária. Em comparação a 2022, a redução foi de 14,6%.
Entre os casos mais graves — considerados como as piores formas de trabalho infantil — a estimativa é de que 586 mil crianças estejam submetidas a atividades insalubres ou perigosas, como o manuseio de agrotóxicos, exploração sexual, tráfico de drogas e trabalho forçado. A queda neste recorte foi de 22,5% em relação ao ano anterior.
Apesar do avanço, os dados revelam um retrato desigual. O trabalho infantil é mais frequente entre crianças pretas ou pardas, que representam 65% dos casos, e meninos, que respondem por cerca de dois terços do total. A maior incidência ocorre entre adolescentes de 16 e 17 anos (55,7%), mas chama atenção o número de crianças entre 5 e 13 anos (21,6%) já inseridas no mercado de trabalho.
As regiões Norte e Nordeste concentram os índices mais altos. O Norte lidera proporcionalmente, com taxa de 6,9%, e o Nordeste tem o maior número absoluto de casos: 506 mil crianças trabalhando. Estados como Tocantins, Distrito Federal e Rio de Janeiro registraram aumento na comparação com o ano anterior.
Causas e desafios estruturais
O trabalho infantil é impulsionado, principalmente, por desigualdade social, pobreza, racismo estrutural e baixa escolaridade das famílias. Embora o Brasil conte com legislações avançadas — como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Convenção 182 da OIT — a fiscalização ainda enfrenta limitações, sobretudo nas áreas rurais e periferias urbanas.
O país conta com o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), ações do Ministério do Trabalho e parcerias interinstitucionais, como o Sistema Ipê, que permite o registro de denúncias online. Mesmo assim, especialistas alertam que os cortes em programas sociais, como o Bolsa Família e investimentos em educação, podem comprometer os avanços conquistados.
Meta global distante
No cenário internacional, a situação também preocupa. O último relatório conjunto da OIT e da Unicef afirma que o mundo está longe de atingir a meta de erradicação do trabalho infantil. O documento aponta que, com o ritmo atual de redução, seria necessário um esforço 11 vezes maior para atingir o objetivo dentro do prazo.
Entre as recomendações das organizações estão o fortalecimento de políticas públicas, ampliação da proteção social, acesso universal à educação de qualidade e melhoria das condições de vida das famílias. Também destacam a importância da cooperação entre governos, empresas e sociedade civil.
Infância não se negocia
O trabalho infantil compromete o presente e o futuro de milhões de crianças. Além de tirar delas o direito de brincar, estudar e se desenvolver plenamente, perpetua ciclos de pobreza, desigualdade e exclusão.
Neste 12 de junho, a data serve como um chamado à ação. O combate ao trabalho infantil é uma responsabilidade coletiva. Somente com educação, proteção social, fiscalização e políticas públicas eficazes serão possíveis garantir que nenhuma criança precise trocar a escola pelo trabalho. Afinal, infância é direito — e não mercadoria.